2 de nov. de 2011

Os Parceiros Invisíveis


VISÃO ESPÍRITA:
“Os Espíritos exercem incessante ação sobre o mundo moral e mesmo sobre o mundo físico. Atuam sobre a matéria e sobre o pensamento e constituem uma das potências da Natureza, causa eficiente de uma multidão de fenômenos até então inexplicados ou mal explicados e que não encontram explicação racional senão no Espiritismo.”


VISÃO PSICOLÓGICA
Mesmo sem nos darmos conta, por ser fenômeno resultante de forças inconscientes, predeterminamos como deve ser nosso relacionamento com o parceiro ou a parceira, o que devemos sentir e em que deve resultar a relação. Fazemos projeções inconscientes e com base nelas cobramos dos nossos parceiros a realização de nossos anseios mais profundos.


12 de fev. de 2010

A Psicologia e a Religião na Individuação

A psicologia (do grego termo derivado das palavras psykhé, "alma“ e lógos .
Ramo da ciência que estuda a mente e os processos mentais, no que se relaciona ao comportamento do homem e de outros animais
 
Ciência que se ocupa dos fenômenos psíquicos e do comportamento humano e animal
RELIGIÃO deriva do termo latino "Re-Ligare", que significa "religação" com o divino.
Essa definição engloba necessariamente qualquer forma de aspecto místico e religioso, abrangendo seitas, mitologias e quaisquer outras doutrinas ou formas de pensamento que tenham como característica fundamental um conteúdo Metafísico, ou seja, de além do mundo físico.
A Individuação:
Realização da unidade da vida em cada ser humano e se manifesta sob a forma de um confronto entre consciente e inconsciente, o que é absolutamente necessário.
Definições e características:
Individuar-se significa tornar-se um ser único;
É um processo de diferenciação da coletividade;
Envolve um diálogo contínuo entre o Ego e o Self;
É um processo dinâmico, natural e permanente;
Envolve a ampliação gradual da consciência;
Individuação é diferente de individualismo.
Atitudes do Ego
Para o indivíduo viver o processo de individuação de forma real, torna-se necessário que ele o via de forma consciente.
As neuroses são decorrência de identificações dissociativas, devido a recusa do Ego em submeter-se ao impulso direcionador advindo do Self.
O Ego funciona como iluminador de todo sistema, permitindo portanto que ganhe consciência e, portanto, que se torne realizado.
Atitudes do Ego
Para o indivíduo viver o processo de individuação de forma real, torna-se necessário que ele o via de forma consciente.
As neuroses são decorrência de identificações dissociativas, devido a recusa do Ego em submeter-se ao impulso direcionador advindo do Self.
Etapas do Processo de Individuação:
I - Início:
Crise existencial devido ao reconhecimento da Sombra.
“A Sombra é um componente da personalidade representada por qualidades e atributos desconhecidos do Ego que não se ajustam às regras e leis da vida consciente”.
O reconhecimento da sombra produz a desidentificação entre Ego e Persona;
A sombra é vivida inicialmente através das projeções;
É necessário a integração da sombra, para que se processe a individuação.
II – Dissolução dos Complexos:
Agrupamento de idéias e afetos que perturbam o funcionamento da consciência.
III – Desidentificação das Imagos Parentais:
Representação inconsciente sobre as pessoas existentes no psiquismo humano, esta formada por um lado dos caracteres provenientes da pessoa real e por outro, do material inconsciente do próprio sujeito.
IV – Confronto de Anima e Animus:
Arquétipos que representam as tendências sexuais opostas no inconsciente das pessoas e que inicialmente são projetadas.
V – A realização com o Outro:
A individuação é um processo interpsíquico, o qual depende diretamente das relações com o ser humano e, pode acontecer duas possibilidades de fuga:
1 – adoção de uma atitude espiritual vazia;
2 – Tentativa de dominar o outro.

Eventos





27 de mai. de 2008

O Mito de Narciso

O MITO
INTERPRETANDO O MITO
PERSONAGENS
O MITO SEGUNDO JUNG
.



O MITO

O Céfiso, misto de deus e rio, situado na região da Beócia, com suas águas envolventes, atraia pela curiosidade e ao mesmo tempo atemorizava ninfas da região, pois, ele ao percebê-las, delas se aproximava e as seduzia.

A bela ninfa Liríope, num dia ensolarado, passeava tranqüila às margens do rio, quando suas águas se elevaram tomando-a, e enlaçando-a num amplexo irresistível e possuiram-na em súbita paixão.

Liríope, que antes tinha uma vida tranqüila e feliz, agora amargava a tristeza e o cansaço, lamentando aquele fatídico dia a partir do qual passou a carregar dentro de si o fruto daquele amor indesejado.

Entretanto, o seu rosto voltou a iluminar-se de alegria com o nascimento do seu filho, belo e gracioso, que ao crescer certamente seria amado pelas deusas, ninfas e mulheres mortais. Ele recebeu o nome de Narciso.

Filósofos, cientistas, artistas, influenciados pelas histórias e mitos, contados desde os tempos mais remotos, beberam da fonte inesgotável de inspiração que foi e ainda o é, a mitologia. Gregos e romanos que sempre cultuaram e conviveram com deuses e semideuses fruto da união destes com os humanos, construíram suas explicações para a criação do mundo, das coisas e dos povos a partir da sua mitologia em particular.

Narciso, cresceu Belo e resplandecente, para alegria da sua genitora e ofuscamento de ninfas e outras mulheres do seu meio às quais não dedicava nenhuma atenção.

Até que um dia, uma das ninfas inspirada por Nêmesis, esta desprezada por ele, desejou-lhe que ele sofresse pelo amor não correspondido depois de apaixonar-se pela própria imagem. Destino aliás, que já lhe havia profetizado, o cego adivinho Tirésias, quando consultado pela sua mãe sobre o seu destino e este lhe disse que Narciso viveria muito se jamais visse o próprio rosto.

Um dia, ao distanciar-se dos companheiros de caçada, percebeu algum movimento e perguntou: "tem alguém aí?"

Ouviu uma voz dizer: "aí". Narciso olhou em torno e disse: "vem" e novamente ouviu: "vem" e de imediato, surgiu-lhe a jovem ninfa Eco, correndo em sua direção, desejosa de ser por ele abraçada. Porém Narciso correu apavorado dizendo que preferia morrer a atender aos anseios dela.

Eco, uma das ninfas do séqüito de Hera, muito tagarela, protegia Zeus com a sua tagarelice enquanto ele se relacionava com as outras ninfas e Hera ao descobrir a sua estratégia a condenou à mudez parcial, só pronunciando a última palavra da frase a ela dirigida.

Eis que certo dia, cansado e com sede, ao final de mais uma caçada, Narciso debruçou-se sobre as águas claras de um lago para saciar a sua sede e deu de cara com a sua própria imagem: linda, esplendorosa e irresistível a cuja beleza sucumbiu caindo de amores pelo reflexo de si próprio.

Embevecido com tamanha beleza, permaneceu Narciso por longo tempo admirando a sua própria imagem, até que sem forças acabou morrendo de inanição e em seu lugar nasceu uma flor roxa rodeada de folhas brancas que tomou o seu nome.


INTERPRETANDO O MITO

O HERÓI DA CONSCIÊNCIA

Narciso se definiu simbolicamente como sendo um herói saindo da vida arquetípica para a vida pessoal histórica, e todo herói se define a partir de um modelo considerado como sendo exemplar, como o representante da condição humana. Ultrapassando a fronteira entre o plano arquetípico e o plano pessoal ele se tornou um mito.

Junito de Souza Brandão considera que o herói é o intermediário entre os deuses, os arquétipos e os homens. Ele é o representante arquetípico da potencialidade para a construção da consciência e Narciso trazendo em si o potencial para a construção da consciência, da identidade do ego, bem como os seus impedimentos se tornou um herói no momento em que respondeu ao impulso arquetípico para realização da consciência.

Como personagem mítico, Narciso se equivale ao ego na sua árdua luta para nascer, firmar-se e se fortalecer.
Em sendo o ego na sua essência, mais masculino do que feminino, o herói é representado por uma figura masculina, no que se refere ao homem como também à mulher.

Sendo o ego para Jung, o executor da "vontade do Self" e veículo de expressão deste, ele viu também a diferenciação e seu fortalecimento como condição prévia para o processo de individuação. O herói deve inicialmente fortalecer o ego visando a preparação do processo de individuação.

Narciso traz consigo características do herói, na medida em que ele é o modelo mítico-arquetípico do herói ligado à construção da identidade egóica e da conquista da individualidade no processo de individuação. Referindo-se estas características a priori à origem e ao nascimento deste, ele é detentor de uma origem divina e invariavelmente de deuses ctônicos.

Filho do deus-rio Céfiso e de Liríope, através da violentação promovida pelo mesmo, Narciso traz também a marca da ilegalidade e essa origem traduz em si, profundo significado psicológico. Narciso, além do nascimento conturbado, tem ainda um duplo nascimento que em tese se afigura em renascimento nas figuras de Tirésias e Nêmesis como pai e mãe espirituais, representantes estes do velho e da velha sábia respectivamente.

Para cumprir sua missão visando reconciliar os opostos no processo de individuação, Narciso terá que renunciar à vivência no seio do Self grandioso, abandonando assim, a casa dos pais.

O androginismo tem também significação simbólica, para o entendimento de Narciso como herói, em que ele corresponde ao estado inicial de indiferenciação da consciência e os opostos estão unidos de forma arcaica e onipotente , bem como os opostos unidos à identidade sexual, o masculino e o feminino. Sendo o andrógino, ser mítico: metade homem e metade mulher com grande poder e onipotência, Zeus os separou. O andrógino representa o símbolo de indiferenciação entre o ego e o Self.

O mito do herói também está ligado à arte da mântica, ou seja, a arte de prever o futuro e ela quando não é exercida pelo próprio herói, ela é realizada por um "mantes". No mito de narciso ele é representado por Tirésias quando este previu a tarefa de busca da identidade e da individuação por parte de Narciso.

Na sua trajetória o herói é acometido de constantes doenças, feridas e loucura e isto tem motivo mítico tem amplo significado psicológico, e algumas são inevitáveis e quando acontecem elas se transformam em impulsos e motivações para o crescimento da personalidade. Nos distúrbios narcisícos as feridas sofridas nas etapas do desenvolvimento da personalidade são facilmente reconhecidas pelos efeitos e marcas deixados nela.

A perfeição, a desmedida e a onipotência são vistos em Narciso como sendo seu defeito, assim como, o seu estado indiferenciado e subdesenvolvido, e a perfeição pode ser identificada na aparência defensiva que esconde os aspectos defeituosos e negativos.

O narcísico se preocupa em demonstrar de forma exagerada uma aparência a mais perfeita possível e a busca dessa imagem de perfeição tem como propósito deixar encoberto os aspectos negativos rejeitados e não integrados pelo indivíduo.

A TOTALIDADE EM NARCISO

O estado de "Narké", de entorpecimento, de perfeição de totalidade é visto em Narciso no início do mito, A criança experiência o estado de unidade Self-mundo, Self-ego, sujeito e objeto imediatamente depois do nascimento. A mãe e a criança vivem uma participação mística no estado narcísico da consciência, ai eles constituem uma totalidade indiferenciada.

O estado paradisíaco mítico, contado em vários mitos de criação antes do nascimento do mundo e da consciência tem seu correspondente simbólico no estado narcísico. O mundo e o eu encontram-se unidos antes do nascimento da consciência.

Inexiste o conhecimento do mundo quando não há consciência, aí o mundo é vivido como um todo envolvente, em que o eu é também o mundo e o Self. Para Jung o Self vem a ser tanto o arquétipo da totalidade como o fator organizador da psique, ele, na concepção junguiana é o condutor do desenvolvimento do ego e nele estão contido os germes desse desenvolvimento.

O presente, o passado e o futuro fundem-se no espaço-mundo de Narciso, aí Narciso-mundo vive a eternidade. A amplidão espacial de Narciso e do mundo que mutuamente se complementam e que nada falta é o que existe como presença dada.

A criança vive o arquétipo da Grande-Mãe, especialmente de maneira positiva, como fonte de doação e conforto se a mãe for continente com ela e o mundo também é percebido desta maneira. Estabelece-se aí um sentimento de fé e confiança no mundo, em si mesmo e no Self que é fundamental para a estabilidade psíquica.

A criança é ao mesmo tempo a mãe como o Self, quando ela está imersa no mundo-mãe e é nesse sentido que Neumann afirma que a mãe é o receptáculo do Self da criança.

Neste momento Narciso é ao mesmo tempo uma presença dada, em que nem o objetivo, nem a subjetividade, em que nada ainda está explicitado. Os pais primordiais estão contidos nesta totalidade. O pai e a mãe primordiais estão inseparavelmente unidos e constituem o universo.

A QUEBRA DA TOTALIDADE

Neste segundo momento do mito que equivale ao emergir da consciência, ocorre o rompimento inicial do estado da totalidade. Há um aumento da percepção do estado de prazer e desprazer, levando a criança a dividir o mundo em pares de opostos: prazer e desprazer, bom e mal. Neste momento, a mãe ainda é uma extensão da criança que satisfaz as suas necessidades, ela ainda não se constitui uma entidade separada.

Emerge uma tensão das profundezas de Narciso-mundo, algo ainda não reconhecido mas pressentido se manifesta, este algo se movimenta no interior do silêncio do si-mesmo. É uma paisagem estática, atemporal, imutável.

As mudanças dos estados de prazer e desprazer ocorridas, determinará as diferenças entre bom e mau de maneira cada vez mais marcante. Sem a determinação das diferenças não ocorrerá nem mudança nem crescimento.

Aqui a ênfase é dada à alimentação, e a vivência psíquica, ainda fundida ao somático, volta-se para a nutrição e nesse ínterim a simbologia se manifesta no comer, engolir, digerir, evacuar. Este estágio do mito refere-se à Uroboros alimentar.

Segundo Neumann, este momento equivale à fase oral de Freud e à fase esquizoparanoide de Klein, em que o ego inicia a saída da fusão com o Self, e os opostos prazer e desprazer aumentam até mais ou menos três meses de idade.

A criança representa psiquicamente os dois instintos, os dois opostos, a exemplo do seio bom e o seio mau. Ocorre a constelação do arquétipo da Grande-Mãe nas polaridades positiva e negativa, representando o amor o cuidado, assim como a frustração, a negação, o abandono.

Inicialmente os opostos são notados via sensações de prazer e desprazer e estas, advém essencialmente do corpo.No primeiro estágio a identificação de si mesmo e do outro ocorre através do corpo. O Self desse momento, conforme Neumann é um Self corporal. O certificado de existência do objeto e da própria existência é procurado no corpo da mãe.

As percepções iniciais de si mesmo e do outro ocorrem no nível corporal, ampliando se depois para percepções psicológicas mais complexas, transformando-se elas em imagens, sentimentos, pensamentos e símbolos. A criança anseia pelo reconhecimento de seus desejos e das suas carências, configurando-se esse reconhecimento como sendo de grande importância para a criança, para o estabelecimento das relações com o objeto e para a criança e isto ocorre através do espelhamento da mãe que traduz as suas necessidades. A mãe é o espelho da criança. Ela é o espelho de Narciso.

NARCISO FERIDO

A grande ferida infligida ao estado narcísico da totalidade ocorre com a percepção da falta de incompletude, bem como, se afigura como o golpe fatal que rompe de uma vez por toda a unidade paradisíaca. Para Narciso este é um dos momentos mais importantes pois ele determinará o seu caminho e a direção do desenvolvimento psíquico. A ferida infligida ao herói é preponderante para a continuação ou cessação do desenvolvimento. O fator determinante para a construção da identidade assim como para o estabelecimentos das relações objetais é a capacidade maior ou menor possuída pelo ego nascente de lidar com esses ferimentos.

O sujeito narcísico entra na inveja quando ele percebe no outro, aquilo que lhe falta; ele ver no outro, as qualidades que imagina ter ou possuir na sua onipotência. A pessoa invejosa tem a tendência de desvalorização de tudo o que recebe, bem como de destruição da capacidade de prazer. Sua inveja lhe impede de ter satisfação nas relações e consequentemente a gratidão, pois ela é o reconhecimento da bondade do outro por si recebida

A inveja se manifesta como a ferida do herói; ela é a ferida de Narciso; é a marca da sua incompletude, da quebra da onipotência, da sua vulnerabilidade. Porém é através desse ferimento que o heróis vem a curar-se. Narciso é o herói que carrega consigo a ferida da inveja como o sinal que o separou do outro. Profundos sentimentos de angústia são gerados com o aniquilamento da onipotência e a percepção da separação.

Ovídio traz a possibilidade de que Narciso foi punido por Eros, o deus do relacionamento, por ser um indivíduo frio, esbelto, altivo, orgulhoso e que não se deixava ser tocado pelo outro.


NARCISO CAÇADOR

Narciso é apresentado caçando com seus companheiros por Ovídio. Ele atuando como caçador mostra os aspectos característicos da fase anal do desenvolvimento psíquico, a posição ativa, a agressividade, o sadismo e o uso do controle sobre o objeto. Em suas diversas manifestações o narcisismo contem características mais intensas da fase oral, anal ou fálica, as quais determinam maneiras diferentes de conviver com o mundo.

A relação objetal, simbolizada pelo ato da caça, traz em si característicos do uso da força, do poder e invalidação do objeto e simultaneamente a utilização do objeto como meio de gratificação para esses sentimentos.

Jacoby identificou em Narciso caçador o símbolo da transformação de Narciso, transformação de passivo para ativo. A caça para ele representa um instinto que o homem compartilha com outros animais predadores e ele questiona até que nível o impulso da caça é um insulto contra Eros que tem como reino o amor. A pessoa enviesada de forma obstinada para a busca de alguns objetivos está fechado para o amor.

O narcisista da fase anal já demonstra capacidade de definir metas e objetivos, melhor do que uma personalidade mais regressiva, porém a procura desses objetivos domina toda a personalidade constituindo-se na única maneira de relacionamento com o mundo.

O narcisista utiliza o seu relacionamento com o mundo como meio de satisfação das suas necessidades narcísicas não importando para isso a forma como utilizada.O narcisista carrega consigo acentuados sentimentos de perseguição nascidos da internalização de um objeto interno mau e frustrador. O indivíduo que mantém a idéia fixa no desempenho e com o fazer poderá assumir o lugar do ser, do verdadeiro Self.

Visando reconhecer sua superioridade através da posse de um objeto difícil de ser alcançado, narciso utiliza a caça como meio. Quando ataca o outro, Narciso busca provar a sua invulnerabilidade, apresentando-se esta invulnerabilidade como uma defesa contra sentimentos de ataques persecutórios e contra os sentimentos de fragilidade e vulnerabilidade.

A dependência de Narciso em relação ao outro e a sua vulnerabilidade é revelada pela sua necessidade de aprovação e reconhecimento. Necessitando de um objeto que dê suporte para a sua auto-estima, o narcisista, mesmo assumindo atitudes de auto-suficiência, não consegue apresentar independência em relação ao outro.

O desejo de Narciso pela caça revela a busca da auto-estima, de identidade e de equilíbrio, porém, da mesma maneira que a caça representa um momento fugaz, este meio de busca também é fugaz, ele destrói o objeto que é a fonte de gratificação.


NARCISO E ECO

Aqui neste encontro, o mito expõe o reconhecimento do objeto e a possibilidade ou impossibilidade do relacionamento de Narciso com Eco. Todas as questões inerentes às dificuldades primeiras no estabelecimento das relações objetais afluem neste instante do mito.

O surgimento de Eco demonstra que o mito concede ao outro um valor preponderante na construção da identidade e na formação do eu. Ele relaciona a questão da identidade ao reconhecimento e ao estabelecimento da relação com o outro e Eco é o outro para Narciso.

Kernberg define que o narcisismo e suas estruturas equivalentes são defesas contra os sentimentos de agressão e inveja que podem surgir na relação com o outro. A dificuldade de Narciso no reconhecimento de Eco é manifestada no momento do encontro dos dois.

O narcisista tem pavor da dependência a alguém, isto porque a dependência pode acordar sentimentos de ódio e de inveja, submetendo o ego à frustração e exploração pelo objeto. A personalidade narcísica carrega consigo baixa resistência à frustração em decorrência das decepções sofridas precocemente e por não possuir recursos que lhe capacite a lidar com a angústia e os impulsos destrutivos. Ele se manifesta de forma raivosa e destrutividade a toda e qualquer frustração como defesa contra a ameaça ao ego.

Narciso percebe a presença de Eco, antes mesmo do encontro pessoal com a mesma, porém ele nega esta percepção como meio de defesa, narciso nega a independência de Eco na medida em que ele só a percebe através da sua voz e mesmo assim com a sua permissão.

O temor à dependência e do controle pelo objeto fica explicitado no mito no instante em que Eco busca abraçar Narciso e este a repele, aqui é demonstrado o pavor de Narciso em relação à dependência e do poder que Eco possa ter sobre ele, e, a dificuldade no estabelecimento da ligação afetiva que pressupões confiança e entrega. Há o comprometimento da relação com o outro em função dos sentimentos persecutórios em relação à invalidação e à autonomia do eu.

O temor do poder e do controle do outro é também reflexo da introjeção negativa de objetos controladores e persecutórios e da falta de empatia especular na relação com a mãe e Liríope e a responsável pela formação negativa do objeto interno em Narciso e que consequentemente o leva a rejeitar Eco.

O Narcisista geralmente tem uma mãe controladora., exigente, perfeccionista e com dificuldade de ressonância empática. Narciso deseja o encontro com Eco, porém o nega por conta do seu medo.

Essa personalidade demonstra imensa fragilidade egóica e por isto possui necessidade de desvalorização do objeto com o intuito de manter a própria superioridade, a existência psíquica do outro constitui uma ameaça para a sua existência e a desvalorização do mesmo também é um meio usado para tê-lo sob o seu controle e posse, garantindo assim, a satisfação exclusiva de suas necessidades.

O objeto, complementarmente desvalorizado, procura o aumento da auto-estima prestando serviço ao outro. Como complementar de Narciso, Eco, que já possui baixa auto-estima e sentimentos de pouco valor, coloca-se à disposição exclusiva de Narciso para sentir-se valorizada. Narciso é para Eco o único espelho que a levará a se sentir detentora de recursos e de valor.

A narração mítica mostra Eco em profundo desespero por se sentir rejeitada por Narciso, a sua dependência em relação ao espelhamento positivo dele põe sua identidade egóica em risco, por se sentir rejeitada, abandonada e rejeitada Eco definha, já que a sua simbiose com ele cria uma dependência absoluta em relação ao seu espelhamento.

Um dado muito importante para a compreensão de Eco como o objeto externo e interno de Narciso é o fato dele percebê-la como uma falta, uma ausência.

Possuidor de baixa auto-estima, o narcisista define o valor pessoal pela atração sexual que exerce e pelo seu desempenho nessa área, segundo Winnicott, essa imagem de vigor, de sexualidade e de desempenho ocupa o lugar da verdadeira individualidade do "verdadeiro Self"
O conceito de Persona, que é uma característica do narcisismo e que foi amplamente discutido por Jung, traz a tendência de substituição defensiva da individualidade pela imagem. A vivência da imagem da persona vincula-se não só à sexualidade, mas também a todas as áreas em que a imagem revele poder, sucesso, superioridade e principalmente no desempenho social.

Identificado com a perfeição grandiosa do ego, Narciso, enviesado para o desempenho, atrai para si muitos admiradores, porém não consegue estabelecer um verdadeiro contato afetivo, ele recusa o contato com Eco.

O encontro de Narciso com Eco pode levá-lo a se reconhecer e a se auto-refletir, aumentando o conhecimento sobre si mesmo. O autoconhecimento exige a retirada do que é bom e do que e mau da personalidade, expurgadas e projetadas no outro. Em decorrência destas projeções, a pessoa não enxerga nem o outro nem a si mesmo. Narciso não vê Eco, pois sua essência encontra-se encoberta pelo eco da sua voz. Narciso é condenado a se ver.


NARCISO E O REFLEXO

o padrão arquetípico do nascimento da consciência a partir da totalidade e o processo do herói Narciso, é expressado pelo mito, passo a passo, para o aumento da consciência.O fenômeno do reflexo, evento dos mais bonitos e de profundos significados tem atraído atenção dos estudiosos
O perfil de caçador de Narciso demonstra que ele não é um herói passivo e que ele está sempre investindo para a ampliação da sua consciência.

Recusando Eco, Narciso transgride com Eros, com a rejeição ao relacionamento ele fecha-se numa atitude onipotente e auto-suficiente. Ele incorre na "hibris", no descomedimento, provocando com esta atitude a punição de Nêmesis e faz com que o destino se cumpra.

Narciso se olha, narciso reflete-se. O ato necessário ocorreu como condição indispensável para a ruptura da totalidade possessiva que tudo quer abarcar, porém, perplexo, ele se olha sem ainda entender, despertado imediatamente do sono do não-ser.

O incidente do reflexo refere-se à percepção da identidade do ego que se reconhece e visualiza a sua existência no mundo, separado desse mundo, mas também fala do aumento da consciência e da busca de significado no processo de individuação, o momento do reflexo é a síntese simbólica de vários acontecimentos psíquicos relacionados ao desenvolvimento da identidade egóica e da busca da individuação.

O olhar-se, em Narciso tem a ver com a busca da identidade egóica, ao impulso da indiferenciação do eu em relação ao outro. No episódio do reflexo, deparamos novamente com a questão da construção da identidade e da formação do eu.

O olho da mãe é o primeiro espelho confirmador da existência da criança. A mãe é o espelho de Narciso, o reflexo da mãe assume papel preponderante na formação da identidade e da auto-estima.

O olhar de Narciso sobre si mesmo e seus questionamentos demonstra que ele deu início ao ato de refletir sobre si mesmo. Todo distúrbio narcísico sugere uma carência de reflexo que impede o estabelecimento sadio da identidade. O olhar de Narciso sobre si mesmo e a metáfora de que a vida do homem está ligada a um contínuo auto-refletir.

Narciso se dobra sobre si mesmo na conquista do autoconhecimento e o dobrar-se sobre si mesmo reflete o ato da reflexão.

O outro assumirá sempre o papel psicológico do espelho e o homem estará sempre sendo refletido pelo outro em todos os momentos da vida e este espelhamento está sempre criando novas oportunidades de auto-reflexão. O home e o mundo estão num eterno diálogo em que um reflete o outro.

O episódio do reflexo sintetiza o ato de conhecimento. Narciso conhece a si mesmo e ao outro, marcando assim a sua diferenciação do mundo.

NARCISO E A PROVA FINAL

Após a passagem pelo conjunto de provas que constitui a sua "dokimasia"; a separação, a iniciação e o retorno, Narciso religar-se-á ao Self do qual havia se separado. Aqui o mito se manifesta simbolizado pelo mergulho de Narciso em busca da totalidade e para ele significa a sua individuação.

Esta é a última prova e é denominada de "anagnórisis", que significa o conhecer-se verdadeiramente na sua totalidade e representa a morte simbólica do herói. Porém, antes da última batalha, outras provas preparatórias essenciais ao processo de autoconhecimento dele se realizarão.

"O isolamento dentro de si mesmo" é conforme Jung o perigo ao qual o herói se expõe. Ele tem que se diferenciar de seus semelhantes, viver seu processo de individuação e ao mesmo tempo se relacionar com os outros.

O herói possui uma alma própria, alma esta, que ele conquistou lutando e segundo Neumann, por conta disto ele não pode compartilhar com o outro a solidão vivida de sua diferenciação, e a conquista da diferenciação conduz a pessoa ao medo do isolamento, de não mais poder ser igual ao homem comum, medo de não ter com quem conversar, porém a verdadeira individualidade o aproxima dos outros de uma outra maneira, mais diferenciada, aceitando as diferenças.

A descoberta da individualidade na individuação vem acompanhada de uma dor psíquica intraduzível e de um profundo sentimento de solidão. Sentir-se uno, traz um sentimento de estar "fora" dos demais e a dúvida vivida em relação ao compartilhamento da sua experiência pessoal e única, intransferível e incomunicável lhe é atroz.

Essa etapa, neste momento, torna-se mais complexa na medida em que o indivíduo relembra as feridas sofridas na saída do estado de fusão com o self, com a mãe e com a família.

O ego-herói já venceu duas batalhas importantes: na infância precoce, saindo do estado de fusão com a mãe; na adolescência em que o ego-herói busca a afirmação da sua identidade através dos pais, da família, visando a formação da personalidade adulta.. Por fim, pela terceira vez, o herói se vê imerso na necessidade interna, impulsionadora par completar o caminho da sua individuação.

Otto Rank, traz que o mito do herói está intrinsecamente ligado à luta do menino contra o pai de um modo geral da criança buscando libertar-se dos genitores. Após a separação dos pais, na adolescência, o ego jovem tem um longo caminho iniciático, distante do lar e dos genitores, caminho este de preparação para a prova final.

O desejo de encontro com o outro diferente dele, vivido por Narciso, embora semelhante a ele é despertado desejo do encontro, nascido da dor da solidão que o impulsiona para este outro, O herói deve cuidar da sua individualidade e da do outro pela discriminação. A transparência do outro pode vir a ser ofuscada pelo jogo das projeções.

Não há processo de individuação se o ego não passa pelas etapas de desenvolvimento necessárias, as quais favorecerão o seu vigor, a sua estabilidade, independência, criatividade, produção e o senso de noção da sua identidade.

O processo de individuação não acontece no nível metafórico e abstrato, já que ele exige do indivíduo provas constantes no dia-a-dia e nas ações mais triviais possíveis.

O encontro do ego com o self é realizado de maneira discriminada, em que o ego tem consciência de sua existência como entidade separada e distinta do Self e da finalidade deste reencontro. E este instante da individuação em que o ego pode sofrer o perigo da inflação é descrito no mito como a volta do herói para casa.

No mito de Narciso, esse processo final é representado quando narciso reconhece a existência do Self e deseja o seu encontro fazendo o mergulho. Este acontecimento pode ser interpretado sob dois enfoques: como uma regressão à fusão com o Self pela inflação, ou como a busca do encontro com o Self.

O ego é tido como duplamente filiado: aos pais transpessoais, arquetípicos e aos pais pessoais. O religamento, o retorno do herói alude a essa religação consciente com o Self, restabelecendo a comunicação viva com o centro arquetípico.

O olhar de Narciso no lago, nesta etapa do mito, traduz a busca do Self, a busca da alma, do encontro consigo mesmo. Aqui o herói enfrenta a batalha mais difícil, a última prova que o transformará.

A maior prova da superação da condição narcísica é o estabelecimento da capacidade de amar e de se relacionar consigo mesmo e com o outro. O episódio de Narciso no lago, apaixonado por sua própria imagem, reflete de um ponto de vista positivo, o estabelecimento da auto-estima, do amor a si mesmo como a capacidade de auto-relacionamento. Do ponto de vista negativo, seria a expressão de um fechamento em si mesmo e dificuldade de relacionamento com o outro.

A pessoa que supera as dificuldades de relacionamento consigo próprio e com o outro, torna-se capaz de amar a si mesmo e, assim pode amar ao outro de uma forma genuína. Narciso demonstra estar preparado para a prova final.

O amor traz a exigência de dualidade e da existência do outro para que possa realizar o seu trabalho de ligação. O amor se realiza no encontro das dualidades, do eu com o tu. Movido pela paixão que o impulsiona para a descoberta, dobra-se numa atitude de mergulho receptivo e vai ao encontro do outro e da sua alma.

Narciso mergulha, realiza a prova final, sem risco de inflação, narciso já passou por duras provas e pode realizar o encontro com o Self.

Narciso se torna um religioso porque ele já fez a religação com o Self e o indivíduo religioso é aquele que desenvolveu-se e sabe que é capaz de fazer a religação em todos os aspectos da vida, ele vive a sua religiosidade através da capacidade de amar. É Eros que estabelece a ligação. O amor torna o homem um ser religioso.

No processo de individuação estão contidas as vivências amorosas e religiosas. O coração é a sede da alma e também a morada do Self. Narciso tornou-se um ser amoroso e religioso porque realizou a prova final. Ele se religou ao Self.

NARCISO MERGULHA
A BUSCA DO ENCONTRO COM A ALMA

O encontro com a anima indica que o herói está completando o seu desenvolvimento, tornando-se a partir daí um ser capaz de viver o amor e a religiosidade sintetizados no hierogamos. O hierogamos para Jung é a conjunção dos opostos, a interação da anima com o animus dentro de cada indivíduo.

O mergulho de Narciso significa a morte simbólica e o renascimento psíquico do ser diferenciado em outro nível de consciência.

O mergulho de Narciso pode ter dois significados: do lado negativo: constitui uma regressão, devido à regressão e dificuldade de lidar com os aspectos da individualização e da formação da identidade egóica e com os fenômenos patológicos dos distúrbios narcísicos da personalidade, da psicose e esquizofrenia que constituem impedimentos mais sérios para o desenvolvimento psíquico. Do ponto de vista positivo: significa o maior aprofundamento do encontro consigo próprio, com os opostos, com o inconsciente, com a anima e com o Self.

A imersão na água está relacionada simbolicamente com a travessia noturna do mar no mitologema do herói. É a imersão no inconsciente, é a descida aos infernos, ao mundo inferior, para que seja possível o renascimento.

Narciso como o herói da consciência, ao entrar em contato com o Self no seu mergulho, adquire o direito de participação numa condição superior da consciência. Narciso realizou o seu sofrimento, o seu "pathos", de uma forma exemplar, que lhe dá acesso ao conhecimento e à realização do hierogamos dentro de si mesmo. Narciso une aquilo que no início teve de ser separado e assim realiza a sua tarefa heróica: a construção da consciência egóica e o processo de individuação. Narciso realiza a síntese da vida heróica.

DINÂMICA DOS DISTÚRBIOS NARCÍSICOS

A psicanálise e a psicologia analítica têm se debruçado sobre o tema narciso e seus desdobramentos e as opiniões como não deixaria de ser pela complexidade não se coadunam. A psicologia analítica se dedica à questão do impedimento para o processo de individuação e a psicanálise vê o narcisismo como um distúrbio da personalidade.

As divergências entre as mesmas abordagens se devem na maioria das vezes pelo olhar que cada uma das duas correntes direciona para a problemática em questão. Raissa Cavalcanti traz um quadro descrito dos principais aspectos dos distúrbios da personalidade, os quais transcrevo:

1 – IMPULSIVIDADE E DESCONTROLE
2 – DIFICULDADE DE INTROJEÇÃO
3 – AUSÊNCIA DE SUPEREGO
4 – EXIGÊNCIA DE QUE O OUTRO SE COMPORTE SEGUNDO SEUS DESEJOS
5 – ÊNFASE NO FAZER E NÃO NO SER
6 – SENTIMENTO DE VAZIO INTERIOR
7 – SENTIMENTO DE FALTA DE SENTIDO E SIGNIFICADO
8 – NECESSIDADE DE CONTROLE
9 – NECESSIDADE DE AUTO-AFIRMAÇÃO À CUSTA DA INVALIDAÇAO DO OUTRO
10 – NEGAÇÃO DA PERCEPÇÃO DOS LIMITES
11 – BAIXA RESISTÊNCIA A FRUSTRAÇÕES E FÚRIA NARCÍSICA
12 – BAIXA AUTO-ESTIMA E NECESSIDADE DE REFLEXO POSITIVO
13 – OSCILAÇÕES ENTRE IDEALIZAÇÕES POSITIVAS E NEGATIVAS
14 – INVULNERABILIDE
15 – EXTREMA AMBIÇÃO
16 – VALORIZAÇÃO DO OBJETO QUE SERVE À SATISFAÇÃO NARCÍSICA
17 – VALORIZAÇÃO DO OBJETO QUE SERVE Á SATISFAÇÃO NARCÍSICA
18 – INCAPACIDADE DE TER SENTIMENTOS DE GRATIDÃO
19 – DIFICULDADE NO ESTABELECIMENTO DE RELAÇÕES AFETIVAS ÍNTIMAS E
PROFUNDAS
20 – EXARCEBAÇÃO SEXUAL


PERSONAGENS

A cena do mito é composta principalmente de personagens que se atuam como expressões simbólicas representativas dos arquétipos, aqui, constelados na fenomenologia do narcisismo. Estes personagens reunidos constituem a estrutura arquetipica do quadro narcísico.

Os arquétipos que compõem a estrutura arquetipica do narcisismo inter-relacionados entre si, formam um conjunto complexo que constitui um mitologema expressivo da fenomenologia narcísica em suas diversas formas como uma etapa do desenvolvimento, direção da energia psíquica ou um distúrbio da personalidade

CÉFISO

Céfiso surge na cena do através de um ato de violência, a sua performance traduz uma força impulsiva e dominadora. Ele surge alterando o estado inicial natural das coisas, instaurando uma nova ordem.

Ele é feito de água e a água simboliza a reunião das virtualidades, a matriz das possibilidades, a origem da vida, o inconsciente. O conteúdo do inconsciente representado por Céfiso é portanto poderoso, forte e rico de potencialidades. Deduz-se que é uma água masculina, uma vez que ela se expressa de forma ativa, abrupta, violenta e forte. A água como expressão do feminino, seria tranqüila, passiva, plácida e profunda.

Céfiso viola Liríope, forçando a conjunção com esta. Essa água possui aspectos da fertilidade do masculino que impõe os seus conteúdos e a sua força. Céfiso como deus-rio representa o potencial masculino fertilizador do inconsciente coletivo, ele é a representação simbólica do princípio coletivo masculino indiferenciado e virtual, fundamento da manifestação da vida, que contém todas as sementes e origem de todas as formas.

O rio é a representação do inconsciente coletivo na sua polaridade masculina, rico de possibilidades, ligados à idéia de passagem de limite de um estado para outro.

O ato de violência de Céfiso, portanto, tem o significado de rompimento de uma ordem anterior para a instauração de uma nova ordem, e isto é sentido com violência. A entrada do masculino é sempre sentida como uma violência para a consciência matriarcal.

Céfiso representa também a irrupção do masculino na consciência matriarcal feminina. Ele viola Liríope e a seqüestra mantendo a sua posse. Céfiso é a polaridade masculina que aparece com a característica de força negativa.

O rio sugere a idéia de ligação entre uma margem e outra, entre duas polaridades. A violação de Céfiso descrita no mito, se refere a essa natureza arquetipica da uroboros patriarcal, que acarreta o aspecto negativo da ligação, pois traz a submissão e a restrição do outro.

Céfiso possui a numinosidade do arquétipo que não pode ser diretamente conhecida e ela tem o caráter terrível da revelação para Liríope, uma ninfa, diante de Céfiso, Liríope como ninfa, representa o estado natural da psique, e ele, como deus, a insuflação do espírito na psique.

A associação de Céfiso com o mercúrio alquímico também pode ser estabelecida pelo fato de ambos possuírem uma natureza líquida, unificadora, fluídica.

A união de Céfiso e Liríope pode ser entendida como a potencialidade arquetipica para a diferenciação e a união dos opostos numa totalidade diferenciada. Segundo Natan Schwartz-Salan, Céfiso é também a representação arquetipica dos aspectos dominadores e controladores do caráter narcisista. Como Céfiso é o pai de Narciso, este é o lado da sua herança paterna.

A violação de Liríope por Céfiso, encarada do ponto de vista negativo e em relação às desordens do caráter narcisista, representa o aspecto esmagador da personalidade narcísica, o que não dá espaço à existência do outro, o que tudo ocupa e inunda.

LIRÍOPE

Ela é a polaridade complementar de Céfiso, Liríope é a representação da Uroboros matriarcal. O feminino aparece na qualidade de ninfa, um ser diáfano e evanescente; o feminino no seu aspecto passivo e receptivo, ligado à natureza. A polaridade matriarcal assume estas características para que o masculino desempenhe o papel ativo de incitador de movimento da construção da consciência.

As ninfas são entidades ligadas á água e ás nuvens, e água é a matéria-prima para a formação da vida. As ninfas são divindades do nascimento, e principalmente do nascimento dos heróis.

Liríope concebe Narciso e, apesar dessa concepção ter ocorrido através da violação, não há resistência ao nascimento. O fato de Liríope ser uma ninfa com um aspecto diáfano e quase incorpóreo, no seu pólo negativo, sugere a dificuldade do feminino em se afirmar.

Liríope representa simbolicamente a receptividade, a matriz, o útero, o maternal. A sua natureza úmida, aquosa, receptiva que deseja conceber e pelo fato de a água ter o caráter de unir os elementos e as substâncias, denota que ela de alguma forma está de acordo com a conjunção de Céfiso.

Liríope traz em si mesma uma característica muito positiva, que é a potencialidade empática arquetipica, a capacidade de perceber e ser receptiva ao novo, ao outro. Nesse sentido é um complementar do outro

Do ponto de vista da polaridade negativa, Liríope também representa a dificuldade de critica, reflexão e discriminação, características de egos imaturos que não são capazes de julgamentos críticos.

Geralmente se encontra nos quadros dos distúrbios narcisícos de personalidade uma mãe de tipo Liríope. Como esta mãe não está bem definida como indivíduo, leva o filho à busca eterna da figura feminina idealizada que preencha o espaço não definido da formação da imagem interna da mulher que precisa do correspondente externo.

Kernberg demonstra que em alguns casos de distúrbios narcísicos a mãe não é ausente nem fria, mas superprotetora de maneira discriminada, o que dificulta a diferenciação da criança com a mãe.

Liríope dá a seu filho o nome de Narciso. A atribuição do nome ao filho pode refletir as expectativas da mãe em relação ao filho. O nome Liríope significa " a face do lírio", estes dados revelam a expectativa de Liríope em relação a Narciso de que ele seja o símbolo branco e puro da perfeição e que seja a versão dela. Liríope constela o desejo arquetípico materno de indiferenciação e possessividade em relação ao filho. Liríope procura Tirésias, o "Mantes", o adivinho para consultar sobre Narciso.

TIRÉSIAS

Tirésias é aquele que tem a visão, e ver significa conhecer. Tirésias possui o conhecimento das verdades internas. Ele perdeu a visão exterior, mas adquiriu a interior. Ele possui o dom da "mantéia", a capacidade de predição, como seu próprio nome diz. A capacidade de vaticínio está ligada ao conhecimento do inconsciente, onde não existe a divisão feita pela consciência, de presente, passado e futuro. Tirésias é aquele que tudo conhece; ele é a representação do arquétipo do velho sábio.

O velho sábio é um tipo relacionado com o conhecimento e, portanto, com a reunião das polaridades masculina e feminina. Este arquétipo constela o conflito e a resolução dos problemas ligados ao casamento dos opostos no processo de individuação.

Pelas suas habilidades, Tirésias é convidado a ser o árbitro de uma discussão entre Zeus e Hera, em torno de quem teria maior prazer no ato do amor, o homem ou a mulher?Tiresias revelou o conhecimento de que o feminino está mais ligado ao mundo do instinto, do prazer, do amor, e da relação. Hera ficou furiosa porque Tirésias descobriu seu segredo e o cegou. Mas terminou sendo um prêmio. Hera premia tirésias com a cegueira para o mundo profano, e Zeus o recompensa pela resolução do conflito, com o dom da "manteia", a visão para o mundo espiritual.

As origens materna e paterna de Tirésias atestam sua ligação com a busca do equilíbrio e da saúde psíquica, seu pai chamava Éveres que pode significar o bem-ajustado, sua mãe Carielo, uma ninfa casada com o centauro Quiron, símbolo do médico ferido que cura através da experiência interior. Além da profecia, Zeus concede a Tirésias o dom de ter vida longa durante sete gerações.

NÊMESIS

Há sempre no mito do herói a ação de um representante da justiça divina que impõe ao herói o "pathos", isto é, o sofrimento, o destino do qual ele não pode escapar.

Nêmesis impõe a Narciso o sofrimento de se apaixonar pela sua própria imagem. É o "pathos" de narciso. A partir daí acontece uma série de acontecimento dentro do mito. Depende do comportamento do herói , adquirir o conhecimento do bem e do mal. Ele pode entender ou não o significado de seu ato.

O ganho do conhecimento leva à kátharsis, que significa a purificação do herói e a sua transformação, e o conduz à sua redenção e individuação.

Nêmesis é a deusa da justiça divina e representa o castigo divino diante da ousadia dos mortais. Nêmesis está pronta para punir todo aquele que incorre na "hibris", na ultrapassagem do "metron", que é a medida de cada um, o limite próprio do ser. humano.

A ultrapassagem do "metron" é sempre uma desmedida, uma violência cometida contra si mesmo e contra os deuses. É uma tentativa de identificação com a divindade, o que na linguagem psicológica significa a onipotência e a inflação do ego.

A "hibris" sempre implica o cometimento de uma falta a "hamartia" de Aristóteles. É um ato necessário para o desencadear do processo de desenvolvimento e que leva o herói ao seu destino, ao seu objetivo final que é a individuação.

Nêmesis é uma moira, no sentido de cuidar que o destino se cumpra e não seja alterado. São as moiras que distribuem o destino individual, a parte que cabe a cada um. Nêmesis distribui a lei que não pode ser transgredida nem mesmo pelos deuses.

Nêmesis é a representante arquetipica da justiça, e revela a vontade dos deuses e o desejo do Self de se expressar, em cada indivíduo, através da sua particularidade única, que pode ser vivida no processo de individuação.

Nêmesis também é constelada na época da relação primal. Nesse período, ela toma a forma da Grande Mãe, deusa do destino que decide sobre a vida e a morte e que pode punir com a retirada da sua proteção e do seu amor.No mito de Narciso, ela se faz presente, não só pela sua importância em relação ao processo iniciático do herói mas, também, porque ela como arquétipo da justiça punitiva, adquire relevância na constituição do sentimento de culpa primário.

Esse sentimento de culpa, característico de crianças que sofreram distúrbios na relação primal com a mãe, é determinante na formação da auto-imagem negativa, comum nos distúrbios narcísicos da personalidade.

A constelação do arquétipo de Nêmesis, na sua polaridade positiva ou negativa, é amplamente determinada pela qualidade da relação pessoal com a mãe.

Nêmesis se constela como a madrinha, a segunda mãe, a mãe espiritual; e no processo de individuação, aparece como a velha sábia que guia o ego no contato com a sabedoria do inconsciente.

Nêmesis, como a madrinha, a mãe-espiritual, representa a segunda mãe do herói, o seu segundo nascimento. Ela está presente no nascimento da consciência egóica de Narciso, quando o leva a se ver, no seu segundo nascimento, na individuação. A ação de Nêmesis ocorre na formação da consciência e na busca da religação com o Self.

Os desígnios de Nêmesis são misteriosos e obscuros. Muitas vezes é através do sofrimento e da doença que o indivíduo tem a oportunidade de buscar o autoconhecimento. Isto foi analisado por Jung, que viu na neurose e na doença a oportunidade par a cura da alma, para o caminho do autoconhecimento. Segundo Jung, muitas vezes o indivíduo adoece para poder curar-se

Quanto mais se conhece, mais se adquire a consciência de que se desconhece. Essa consciência nos devolve a humildade e nos protege da "hibris". A saída da inflação se dá pelo conhecimento. Este é o castigo de Nêmesis para Narciso e, também, a sua cura.


ECO

É uma ninfa, um ser úmido, fecundável, diáfano, que vive num total envolvimento com a natureza. As ninfas eram chamadas pelo nome do local a que pertenciam; elas assumiam a identidade do local em detrimento de sua própria identidade. A ninfa torna-se transparente para poder deixar transparecer o outro.

Eco era filha do ar e da terra, ninfa das montanhas, seguidora do séqüito de Hera. Originalmente, ela era Acco, uma deusa pré-helênica, a "voz da criação", também conhecida como o "último eco da voz".

Como ninfa, Eco tem a qualidade de se envolver com tudo. Essa qualidade das ninfas tanto mostra a disponibilidade para o estabelecimento das relação com o outro, quanto a falta de seletividade e discriminação nas escolhas objetais. Eco como ninfa deseja colocar a sua alma naquilo e naquele com o qual se envolve, porque ela possui essa característica de envolvimento absoluto.

Eco tem seletividade e deseja aquele que possa ser o seu complemento. Ela recusa Pã, pois é o semelhante a ela mesma. Ela escolhe Narciso, que forma com ela a complementaridade dos opostos: sujeito e objeto, amante e amado, perseguidor e perseguido, extroversão e introversão, refletidor e refletido, acolhedor e acolhido, submetedor e submetido.

Para poder se expressar, Eco precisa da voz alheia. Na ausência do outro, ela está impedida de existir. Com o espírito da natureza, Eco está voltada para a realização da fertilidade e da criatividade, para o prazer e para a alegria, mas também busca a união desse impulso natural com os valores civilizatórios da consciência.

Ela está unida a Zeus e a Hera, deuses do casamento. Zeus representa o impulso fertilizador e criativo, e hera os valores da consciência, da forma e da ordem das coisas.Zeus está ligado frequentemente, ao inconsciente informal, ao ilícito e Hera ao lícito.

Segundo Ovídio, Eco mantinha Hera entretida com a sua tagarelice, para que ela não percebesse Zeus com as ninfas. Mas, quando Hera descobriu o estratagema a pune privando-a parcialmente da voz.

Frequentemente o indivíduo com dinâmica de Eco, é receptivo à onipotência narcísica do seu parceiro, formando uma complementaridade na qual serve de vaso para a grandiosidade narcísica do outro.

O caminho da iniciação é feito de sofrimento, de privação e do confronto com as dificuldades para adquirir o bem tão desejado. Este é também o significado que se encontra no arquétipo de Eco.

A tendência de eco como ninfa é refletir o outro e não a auto-reflexão. Por isso ela apresenta uma capacidade empática muito desenvolvida; ela está naturalmente atenta para a percepção dos desejos, dos sentimentos e das necessidades do outro, mas às custas da negação de seus próprios sentimentos, desejos e necessidades.

A "personalidade Eco" apresenta uma tendência compulsiva para se colocar a serviço do outro, na busca de reconhecimento, de auto-estima e de sentimento de valor.

Eco não reconhece o ódio; só o amor. O ódio é negado pela idealização. Eco se relaciona através de ligações simbióticas idealizadas. Ela se gruda a Narciso, em busca de amor e reconhecimento. Quanto mais é rejeitada por ele, mais o ama. Eco mobiliza Eros contra a dor da frustração e da depressão. A "personalidade Eco tem dificuldade para entrar em contato com seus aspectos "sombrios", ao mesmo tempo que não tem uma auto-imagem positiva.

Ela apresenta a polaridade oposta a Narciso, já que busca o relacionamento com o outro mesmo à custa do sacrifício da sua identidade. Narciso deseja o "um", a totalidade auto-suficiente que elimina o mundo em volta, Eco deseja o "dois", o relacionamento, a união das polaridades. Narciso luta contra a ameaça anti-unitária que vem de Eco e se afasta, aumentando a distância entre os dois.

Pelo sofrimento do amor, segundo Ovídio o corpo de Eco definha, se transforma, os seus ossos se transforma em pedras, restando somente a voz. Ela se individuou depois que adquiriu a consciência do eu corporificado; eco faz a entrada no espaço, no tempo, perde a totalidade arquetipica e adquire a totalidade pela individuação.

A DINÂMICA DA PERSONALIDADE DE ECO

1 – TENDÊNCIA À IDEALIZAÇÃO
2 – EXCESSO DE CAPACIDADE EMPÁTICA
3 – EXCESSIVA DISPONBILIDADE PARA O OUTRO
4 – BAIXA AUTO-ESTIMA
5 – ARÊNCIA DE REFLEXO POSITIVO
6 – AUTO-EXIGÊNCIAS PERFECCIONISTAS
7 – AUTOCRÍTICAS INVALIDADORAS
8 – RENÚNCIA DE SATISFAÇÃO E DE GRATIFICAÇÃO
9 – TENDÊNCIA A FAZER RELACIONAMENTOS SIMBIÓTICOS
10 – EXTREMA DEPENDÊNCIA DO OUTRO
11 – MEDO DE SER DESTRUTIVO
12 – CAPACIDADE POSITIVA PARA ESTABELECER RELAÇÃO COM O OUTRO
13 – SENTIMENTOS DE ESPERANÇA
14 – REBAIXAMENTO DO JUIZO CRÍTICO EM RELAÇÃO AO OUTRO


O MITO SEGUNDO JUNG

Jung não se dedicou de forma específica para o tema narcisismo. Embora ele tenha tratado da temática com outro foco. A sua teoria está voltada para a busca da verdadeira identidade. Ele se voltou para a questão do processo de individuação, a saída de estados indiferenciados para a discriminação, cada vez maior, da individualidade em níveis complexos. Desde que o narcisismo é entendido como um estado de indiferenciação e de confusão do eu com o outro, a individuação significa a superação do narcisismo num nível maior de complexidade.

Jung mostrou que essas configurações arquetípicas dos processos de desenvolvimentos aparecem simbolicamente expressas no mito. Ele viu no mito a ampliação do conhecimento da psique humana. Para ele, o mito continha tanto o padrão da sanidade quanto o da doença.


BIBLIOGRAFIA:
- O MITO DE NARCISO
O HERÓI DA CONSCIÊNCIA
CAVALCANTI RAISSA
- MITOLOGIA
VOLUME II
ABRIL CULTURAL

16 de mar. de 2008

Homens "revivem" o Clube do Bolinha

Homens se reúnem para discutir assuntos cotidianos, questões existenciais, dificuldades em casa e no trabalho, sonhos...enfim, as dificuldades e facilidades de serem homens.

Não, não se trata de mais um roteiro de desenho animado para o personagem Bolinha em suas reuniões ultra-secretas do Clube do Bolinha. É que a partir da quinta - feira, 3 de abril, os baianos do sexo masculino poderão contar com o grupo terapêutico o Labirinto Masculino como uma chave a mais para se alcançaras suas realizações pessoais e uma vida plena. A iniciativa é do terapeuta junguiano Albérico Barboza e acontecerá toda quinta – feira, a partir de 3 de abril, das 19h30 às 21h30, na Clínica Psique - rua amazonas, 176, Pituba.

O objetivo desse grupo é trabalhar os aspectos da psique humana no âmbito masculino. “Nos encontros, o participante será ajudado a aprender a identificar, principalmente, quais os complexos que dinamizam a sua vida íntima e de relação e de que forma consciente é possível lidar com eles”, afirma o também presidente do projeto filantrópico Caminho da Paz, que atua no Bairro da Paz – Avenida Paralela.

“A idéia é trabalhar os aspectos masculinos da personalidade através de um mergulho no universo interior visando à integração da anima, tanto na relação consigo mesmo quanto com os outros, tendo como premissa básica atingir o desenvolvimento do ser humano na sua integridade”, resume. A iniciativa faz parte do projeto pessoal de Albérico Barboza, que há décadas atua no atendimento a pessoas. Até julho, o terapeuta divulgará detalhes do seu mais novo trabalho, o seminário Promovendo o autodesenvolvimento e a união dos opostos a partir de Narciso.

Os interessados em participar do grupo terapêutico Labirinto Masculino podem se inscrever pelo na Clínica Psique (3345 – 0436 ou 3345 - 0606). O limite mínimo de idade para o grupo é de 18 anos e o custo mensal é de R$160,00
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